Lácteos e Saúde

49 Os ácidos graxos com configuração ‘ trans ’ encontrados naturalmente na gordura do leite (dentre eles os ácidos vacênico e rumênico), diferentemente dos ‘ trans’ de origem industrial, não estão associados a um maior risco de doenças cardiovasculares (LOCK et al., 2005; UAUY et al., 2009), mesmo quando ingeridos em quantidades bastante superiores (~4g/dia) às tipicamente observadas em muitas populações (JAKOBSEN et al., 2008). Digno de nota, uma série de estudos recentes (MOZAFFARIAN et al., 2013; SANTAREN et al., 2014) tem mostrado que indivíduos com maiores concentrações plasmáticas de ácidos graxos saturados de cadeia ímpar (ex.: C15:0) e de ácido trans- palmitoléico (C16:1 trans -9), os quais são marcadores da ingestão da gordura do leite, apresentam menor risco de diabetes do tipo 2, que é reconhecidamente um importante fator de risco para doenças cardiovasculares. Por outro lado, novas evidências indicam que as concentrações plasmáticas de ácidos graxos saturados com número par de carbonos (ex.: C14:0, C16:0), os quais são derivados majoritariamente da síntese hepática a partir da ingestão de carboidratos, são positivamente correlacionadas com o risco de diabetes do tipo 2 (FOROUHI et al., 2014). Um possível papel benéfico da gordura do leite sobre o risco de doenças cardiovasculares e diabetes do tipo 2 é ainda reforçado por estudos observacionais recentes mostrando que a ingestão de produtos lácteos ‘full-fat’ (estimada por questionários ou via biomarcadores plasmáticos) foi associada a uma menor probabilidade de ocorrência de síndrome metabólica (DREHMER et al., 2015) e maior sensibilidade dos tecidos à insulina (KRATZ et al., 2014). A suposta associação entre a ingestão de gordura e ganho de peso também tem sido questionada frente ao número crescente de estudos indicando que o consumo de produtos lácteos ‘full-fat’ reduz o risco de obesidade (KRATZ, 2013; CRICHTON & ALKERWI, 2014). Os resultados destes estudos são consistentes com o número crescente e alarmante de indivíduos obesos ou com sobrepeso observado em diversos países durante o mesmo período em que os produtos ‘low-fat’ ou ‘fat-free’ substituíram os alimentos contendo teor integral de gordura nas prateleiras dos supermercados e na mesa do consumidor. O efeito prático desta substituição foi uma redução da ingestão de calorias oriundas da gordura e aumento das oriundas dos carboidratos, notadamente os açúcares, o que parece ter contribuído para os níveis epidêmicos de obesidade e diabetes observados em diversos países do mundo, tanto nos desenvolvidos quanto nos de baixa renda (TAUBES, 2001). Em suma, as recomendações dietéticas de restrição do consumo de produtos lácteos ‘full-fat’ para redução do risco de doenças cardiovasculares não são

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